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Bertha Lutz: uma pioneira na luta pela igualdade de gênero

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Foto de Divulgação

Bertha Maria Júlia Lutz, uma mulher extraordinária, nasceu em São Paulo no final do século XIX. Ela era filha de Adolfo Lutz, um médico e cientista pioneiro no estudo de doenças tropicais, e Amy Fowler, uma enfermeira inglesa que Adolfo conheceu enquanto estudava hanseníase no Havaí.

Desde cedo, Bertha enfrentou uma sociedade que limitava os direitos das mulheres, mas ela estava determinada a desafiar essas barreiras.

Uma educação internacional

Bertha começou a perceber a desigualdade de gênero quando estudava na Europa, aos 14 anos. Ela concluiu o ensino médio no interior da Inglaterra e se formou em biologia na Sorbonne, em Paris.

Sua especialização em anfíbios anuros, como sapos, rãs e pererecas, deu continuidade aos estudos de zoologia médica de seu pai, resultando na catalogação de mais de 4.400 espécies nacionais.

Preservando o legado de Adolfo Lutz

Além de suas realizações na área de biologia, Bertha também desempenhou um papel fundamental na preservação do vasto trabalho de seu pai, Adolfo Lutz.

Ela manteve sua coleção de material zoológico e botânico, bem como seus estudos, que abrangiam diversas áreas, incluindo parasitologia, veterinária, zoologia médica, bacteriologia, dermatologia e botânica.

Ao todo, eram mais de 8.000 páginas de conhecimento precioso.

Ativismo político e a luta pelo direito ao voto feminino

Enquanto ainda estava na graduação, Bertha se envolveu com o movimento sufragista, que buscava garantir o direito das mulheres ao voto.

Após retornar ao Brasil, ela prestou um concurso e se tornou a segunda mulher a ocupar um cargo público concursado no país, sendo nomeada secretária do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Bertha organizou o primeiro Congresso Feminista do Brasil e fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, desempenhando um papel de liderança na luta pelos direitos das mulheres.

Marie Curie e a vitória do voto feminino no Brasil

Como presidente da federação, Bertha recebeu a cientista Marie Curie, a primeira mulher a ganhar o Nobel, e sua filha Irène, que também venceria o prêmio.

No entanto, a maior conquista da federação veio quando Getúlio Vargas implementou um novo Código Eleitoral, permitindo o voto feminino no Brasil. Nas primeiras eleições com a participação das mulheres, Bertha foi eleita deputada federal suplente e posteriormente assumiu o cargo quando o titular faleceu.

Desafios e conquistas internacionais

Infelizmente, a carreira parlamentar de Bertha foi interrompida quando o presidente Getúlio Vargas decretou o Estado Novo e fechou o Congresso Nacional em 1937.

No entanto, em 1945, Bertha representou o governo brasileiro na Conferência de São Francisco, que levou à criação das Nações Unidas. Mesmo em minoria entre os 850 delegados de 50 países, Bertha lutou pela inclusão da igualdade de gênero no preâmbulo da carta que fundamenta a ONU, obtendo sucesso.

Legado duradouro

Após sua aposentadoria do Museu Nacional, onde atuou como chefe do setor de Botânica, Bertha testemunhou a igualdade de direitos no Brasil quando, um ano após sua aposentadoria, as mulheres conquistaram plenamente o direito de voto.

Ela também foi convidada a participar da Conferência do Ano Internacional da Mulher, no México, antes de falecer em 1976 devido a pneumonia.

Embora seu valioso acervo pessoal tenha sido perdido no incêndio de 2018, o legado de Bertha Lutz perdura.

Seja através do Diploma Bertha Lutz, um prêmio anual do Senado Federal brasileiro concedido a indivíduos que contribuem para a defesa dos direitos das mulheres e questões de gênero, das espécies batizadas em sua homenagem, ou das palavras inspiradoras que ajudaram a pavimentar o caminho para a igualdade de gênero nas Nações Unidas e em todo o mundo. Bertha Lutz é uma verdadeira heroína que deixou uma marca indelével na história da luta pelos direitos das mulheres.